sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Uma mulata de fibra

Por Alinne Teles
Deu vida a seis rebentos. Uma mulata de fibra, trabalhadeira que só vendo. Levantava-se com o raiar do sol, não esperava o cacarejar das galinhas. O caminho era longo e os pés negros rachados contavam os passos. Duas horas de caminhada e o astro-rei queimando a carcunda. A vista alcançava o jirau onde esfregava com sabão de bola e colocava para quarar. Os olhos negros e redondos como jabuticaba sempre mirando as pedras. Tanto sabão, tanta espuma pareciam nuvens bebendo água. A saia molhada beijava o chão, o sufoco era muito. No pensamento seis bocas miúdas e carnudas. Dobrava toda a trouxa e pronto. O dia é escuro e o dever cumprido mais uma vez. Na volta muitos tropeços, agora, na companhia da lua. Os pés mais lentos que o coração. Nas mãos seis pães, no bolso alguns tostões. No retorno a recepção, a esperança. Seis banguelas, seis pares de olhos negros e famintos. No peito a solidão. Na noite o encontro de esperança para o próximo dia.

O texto acima foi escrito há alguns meses. É uma homenagem a minha avó paterna que nos deixou para viver ao lado dos deuses. Sei que os dizeres estão muito distantes de tudo que ela foi e ainda representa. De qualquer forma, fica a lembrança e uma amostra de sua saga.

Nenhum comentário: